Por Elen Nunes / Editado por Flavius Deliberalli
Atualmente, um dos principais objetivos dos desenvolvedores de embalagem é dar adeus ao sistema linear tradicional e criar novas soluções com base na economia circular. Ou seja, desde o princípio dos projetos, considerar extrair o valor máximo de cada material e produto até o limite de sua utilização e, posteriormente, reinseri-los em sua cadeia de valor.
Segundo um estudo da International Solid Waste Association (ISWA), uma associação internacional não governamental e sem fins lucrativos, que atua pelo interesse público de promover e desenvolver o setor de resíduos sólidos ao redor do mundo para uma sociedade sustentável, da qual a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) é representante no Brasil, espera-se que em 2050 o planeta gere 3,40 bilhões de toneladas de resíduos. A pesquisa também mostra que o Brasil é o maior produtor de resíduos urbanos da América Latina, representando cerca de 40% do que é jogado fora. Segundo a própria ABRELPE, a estimativa é que a geração anual de resíduos no país alcançará 100 milhões de toneladas/ano em 2030.
Já o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, que traz dados importantes e atuais sobre a gestão de resíduos no país, através de um raio-x do último ano de 2022, a comparação com anos anteriores e as perspectivas para o futuro, destaca que cada brasileiro produziu, em média, 1,043 kg de resíduos por dia.
Esse estudo mostra ainda que a maior parte dos RSU coletados (61%) continua sendo encaminhada para aterros sanitários, com 46,4 milhões de toneladas enviadas para destinação ambientalmente adequada em 2022. Por outro lado, áreas de disposição inadequada, incluindo lixões e aterros controlados, ainda seguem em operação em todas as regiões do país e receberam 39% do total de resíduos coletados, alcançando um total de 29,7 milhões de toneladas com destinação inadequada.
Diante desse cenário, é fundamental (e indiscutível) que a atual geração tenha como desafio a redução da extração de recursos naturais e a melhor gestão de resíduos. E, considerando que tudo que chega ao fim deve voltar ao começo, o aço tem se mostrado um material interessante, já que é apresentado como “infinitamente reciclável” sem perder sua qualidade por isso.
NOVO, DE NOVO
De acordo com Thais Fagury, presidente executiva da Prolata Reciclagem e da Associação Brasileira de Embalagem de Aço (ABEAÇO), quando o aço é descartado seletivamente, é separado, geralmente, por meio da triagem realizada de forma manual através de cooperativas de catadores e catadoras de materiais recicláveis, mas também pode ser realizada de forma eletromagnética. Logo depois, a sucata é prensada para facilitar o transporte para as siderúrgicas, as quais realizam a revalorização das latas de aço pós-consumo.
Quando chega às usinas, o material é submetido a elevadas temperaturas dentro dos fornos até se transformar em líquido (ferro gusa). Desta forma, volta para a cadeia e pode ser moldado em diversos produtos, desde novas embalagens até automóveis.
A presidente das entidades do setor ressalta que dados do Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa) mostram que quando o aço é produzido inteiramente a partir da sucata, há uma redução de 85% da poluição do ar e 76% do consumo de água.
“Na reciclagem do aço, nada é descartado, tudo se transforma. E os benefícios são diversos, como a otimização da utilização de matérias-primas e consequente diminuição de impactos ambientais, menos desperdício, aumento da geração de empregos, crescimento econômico, conscientização da população, dentre outros tantos”, diz Thais Fagury.
Por sua vez, dados fornecidos pelo Boston Consulting Group (BCG), um dos três maiores escritórios de consultoria do mundo, mostram que é possível que, até 2050, aproximadamente metade das 2,8 bilhões de toneladas projetadas da produção total global de aço dependa de sucata reciclada. Em outro cenário, as projeções indicam que a sucata reciclada será cada vez mais dominante, constituindo cerca de 70% do total global em 2050.
“Para estimular a circularidade é preciso um conjunto de fatores. Primeiro, a consciência do consumidor final. Dados da Accenture mostram que 60% dos clientes preferem produtos ecológicos. E isso só vem aumentando com o tempo. Depois, é preciso compromisso voluntário das indústrias, ou seja, iniciativas verdes de empresas de bens de consumo. Em seguida, crescimento de investimentos responsáveis verdes no Brasil, aumento da pressão regulatória, como regras de proibição, cotas, tributação e responsabilidade ampliada dos produtores. Por fim, o desenvolvimento de tecnologias circulares para ajudarem no processo. E reforçar a importância da atitude do consumidor final que pode começar dentro de casa”, enfatiza a dirigente das entidades do aço.
INDÚSTRIA TAMBÉM AVANÇA
A Brasilata, fabricante de embalagens com cinco unidades fabris e que oferece soluções para diversas aplicações, como tintas, químicos e indústria alimentícia, deu um passo importante para avançar na agenda de desenvolvimento sustentável.
Em 2022, divulgou a primeira edição de seu relatório de sustentabilidade. No mesmo ano, criou o seu comitê interno de ESG, com o objetivo de fomentar, assessorar e potencializar as ações nesse sentido em sua estratégia empresarial e modelo de negócio.
“Baseado no GRI, foram selecionados 81 indicadores de ESG referentes a todas as unidades do grupo que são reportados pelas áreas e monitorados mensalmente pelo ECS. Entre os grandes temas estão: água, energia, emissão de carbono, diversidade, segurança do trabalho, resíduos, saúde, gestão e governança corporativa”, explica Cinthia Squadrani, gerente de marketing da Brasilata.
Ainda em 2022, com objetivo de reduzir a produção de efluentes, o consumo de água e de produtos químicos, a empresa implementou em seu processo nas unidades de Jundiaí (SP) e Estrela (RS), um sistema de reutilização de tratamento de água, capaz de permitir que ela seja reutilizada no processo de litografia.
A empresa informou ainda que ao analisar a transformação do mercado com foco em produtos, entende que existe um movimento de migração para embalagens mono material, principalmente pela facilidade do processo de reciclagem. Um exemplo desse movimento é a substituição da fibro lata por embalagens de aço, principalmente no segmento de suplementação alimentar.
“Também percebemos que há uma redução de consumo de plásticos não recicláveis. E que as embalagens de aço estão ganhando espaço por serem infinitamente recicláveis, podendo ser reutilizadas para outras embalagens ou aplicações industriais”, reforça a gerente da Brasilata.
Para Thaís Fagury, dirigente das entidades do setor, neste sentido há um retorno para embalagens rígidas, materiais com cadeias já consolidadas para revalorização. Ela explica também que na Europa existem mercados que ainda são inexplorados no Brasil, como o de pratos prontos, geleias e pescados, como bacalhau em lata.
“No Brasil, estamos acompanhando o crescimento do mercado de desinfetantes e outros produtos de limpeza em latas do tipo aerossol. Mas ainda há inúmeras outras oportunidades para os avanços das embalagens de aço considerando o apelo sustentável”, analisa.
NA GÔNDOLA E NA INTERNET
A Moncloa, marca de produtos de autocuidado que se inspira na natureza, utiliza latas de aço para suas embalagens de chás de ervas soltas.
“Inicialmente a escolha se deu mais pela estética, mas depois que vimos que seria uma opção mais sustentável, considerando que os clientes poderiam reutilizar, ficou ainda mais atrativo escolhermos este material”, explica Rodrigo Lopes, sócio-fundador da marca.
O executivo conta que que os feedbacks dos clientes são sempre muito positivos, principalmente por eles conseguirem reutilizar as latas de diversas formas, tanto para repor o chá, quanto para usar como vaso de uma planta ou de inúmeras outras maneiras.
A marca também se tornou parceira da Eureciclo, no intuito de contribuir para o aumento da taxa de reciclagem através da compensação ambiental.